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Educação Os celulares e o roubo da infância

Os celulares e o roubo da infância

15 de outubro de 2024

Os celulares e o roubo da infância

A tecnologia é um dos maiores avanços da humanidade e, sem dúvidas, trouxe benefícios inimagináveis para a sociedade. No entanto, o uso excessivo de celulares pelas crianças está gerando preocupações significativas. Um levantamento recente da McAfee, de 2022, mostra que crianças e adolescentes brasileiros são os mais expostos a aparelhos eletrônicos no mundo. São mais de 95% dos jovens com acesso a smartphones – uma taxa 19% acima da média global – e 26% das crianças entre 4 e 6 anos em posse do próprio celular.

Smartphones, tablets, computadores e videogames. Hoje em dia, qualquer tela digital é capaz de monopolizar a atenção dos pequenos. E apesar dos benefícios, como o acesso a informações educativas e jogos interativos que estimulam o raciocínio lógico, o uso excessivo dos dispositivos pode gerar uma série de malefícios para o desenvolvimento infantil, levando ao sedentarismo, à redução das interações sociais e ao comprometimento das habilidades cognitivas, motoras e até emocionais. Não é de se estranhar que um estudo do Sapien Labs, divulgado no ano passado, mostra que 74% das crianças que ganharam o primeiro smartphone aos seis anos sentem-se mais angustiadas do que aquelas que receberam o aparelho a partir dos dez.

O mundo está criando uma geração conectada, mas desconectada do que realmente importa. E onde será que os adultos, responsáveis por essas crianças, falharam nisso?

Desenvolvimento Infantil

Talvez tenham subestimado o impacto profundo da tecnologia. Talvez, esqueceram de que a infância é um período de descobertas e vivências práticas. As experiências sensoriais, como sentir o cheiro da grama molhada, escalar uma árvore ou brincar com amigos sem a mediação de uma tela são insubstituíveis para um desenvolvimento preenchido pela curiosidade natural. Oferecer uma infância digital, enquanto as crianças precisam de tempo para correr, imaginar e explorar é um caminho perigoso. E a solução nem precisa ser a proibição da tecnologia, mas encontrar um equilíbrio saudável que permita o melhor dos dois mundos.

Nesse sentido, movimentos como o “Infância Livre de Smartphones” começaram a ganhar força. Criado no Reino Unido por Daisy Greenwell e Clare Fernyhough, a campanha é um exemplo inspirador de como pais e escolas podem se unir para combater a dependência de telas e promover um ambiente satisfatório para o desenvolvimento infantil. O movimento incentivou milhares de famílias a se conectarem a grupos de mensagens por aplicativo para adotar intervenções efetivas contra o acesso precoce a smartphones.

Movimento Desconecta no Brasil

No Brasil, onde a ação também se faz presente por meio do “Movimento Desconecta“, pais e educadores se esforçam para combater a dependência digital, proporcionando oportunidades únicas de conexão com a natureza nos retiros de férias e acampamentos educativos. Esses espaços oferecem um ambiente equilibrado e enriquecedor que a tecnologia, por melhor que seja, não consegue substituir. Atividades como trilhas, escaladas, arvorismo, tirolesa, esportes e jogos cooperativos proporcionam não apenas diversão, mas também o desenvolvimento de um senso de responsabilidade, respeito ao meio ambiente e habilidades sociais. Nesses espaços, as crianças têm a chance de experimentar o mundo real de forma plena, longe das distrações das telas.

O desenvolvimento infantil é uma fase primordial e, à medida que o mundo avança com a digitalização, a sociedade precisa reconhecer a importância de preservar um estilo de vida completo para moldar o crescimento e caráter. O objetivo nunca será demonizar a tecnologia e sim reconhecer que o futuro das crianças depende de experiências valiosas, que apenas o mundo real pode proporcionar.

 

* Formada em Design Gráfico pela Faculdade Belas Artes e em Desenvolvimento Sustentável e Economia Circular pela PUC/RS, Caroline Gaudio é diretora de Marketing e Sustentabilidade do Aruanã Acampamentos e Eventos, fundado em 1990 pelo seu pai, Victor Gaudio, e sua mãe, Guacirema Gaudio – e onde cresceu como acampante até os 18 anos.