A Importância dos Espaços Afetivos para o Desenvolvimento Infantil
Reflexões a partir de Rayssa Oliveira
O livro Espaços Afetivos: Habitar a Escola, de Rayssa Oliveira, traz uma proposta inovadora ao discutir a estrutura e a arquitetura das escolas, mas com um enfoque singular: a habitação desses espaços pelas pessoas que os frequentam. A autora defende que um ambiente escolar bonito, por si só, não é suficiente. O essencial é que esses espaços sejam habitáveis, promovendo relações humanas genuínas e proporcionando bem-estar aos seus usuários.
Repensando o Espaço Escolar
Um exemplo marcante seria o corredor escolar, presente em quase todas as instituições de ensino. Tradicionalmente visto como um local de passagem, Oliveira nos convidaria a enxergá-lo de outra forma: um espaço de encontros, cruzamento de olhares, caminhadas e observação. Com isso, o corredor transcende, se analisado por essa ótica, sua função primária, se transformaria em um ambiente de interação e conexão humana.
Em seu livro, Oliveira (2021) cita a atelierista Vea Vecchi ao perguntar: “Que tipo de escola é necessária para se viver bem em um espaço?” (CEPPI, 2013). Esse questionamento provoca uma reflexão sobre a transformação dos espaços escolares, que, quando habitados de maneira consciente e afetiva, podem gerar mudanças profundas nas relações e no aprendizado.
Topofilia e o Afeto nos Espaços
Rayssa Oliveira também explora a noção de topofilia, conceituado em 2015 pelo geógrafo Yi-Fu Tuan, que se refere ao elo afetivo entre a pessoa e o lugar. Ela mostra como esse afeto na escola emerge, muitas vezes, nos “entres” – entre atividades, entre momentos e entre os espaços formais de aprendizado, como as salas de aula. Esses pequenos intervalos do dia a dia podem ser ricos em experiências que transformam a relação das crianças com o ambiente.
A autora enfatiza que “nas experiências vividas por crianças e adultos, haverá sempre uma vida pulsante, capaz de gerar transformações nos espaços habitados”. Assim, o afeto é capaz de modificar e enriquecer os ambientes, tornando-os mais humanos e acolhedores, promovendo um aprendizado mais profundo e integrado ao cotidiano.
Liberdade e Exploração no Espaço Educativo
Um dos pontos centrais do livro de Oliveira é a liberdade da criança em explorar o ambiente escolar. A exploração vai além dos caminhos retos e pré-estabelecidos, permitindo que a criança crie seus próprios percursos, ziguezagueando entre árvores, pulando linhas no chão ou contornando canteiros. Cada movimento representa um ato de habitar e aprender com o espaço ao seu redor.
Essa interação se torna ainda mais significativa quando pensamos como “canteiros pedagógicos”, espaços que mudam e se renovam constantemente, permitindo que as crianças vivenciem diferentes formas de interação com o ambiente, contribuindo para um aprendizado dinâmico e envolvente. Como semear, cultivar e florir, há poesia, realidade e muito aprendizado nessa relação forte de comparar as nossas interações humanas com as da natureza.
O Acampamento Aruanã como Espaço Afetivo
Assim como Oliveira propõe em seu livro, os espaços afetivos não se restringem às escolas formais. Eles também podem ser encontrados em outros territórios que as crianças habitam, como parques, praças e acampamentos educativos. É exatamente essa a proposta do Acampamento Aruanã: um espaço educativo onde as crianças podem explorar, brincar e interagir de forma única e afetiva com o ambiente natural.
Aqui no Aruanã, acreditamos que cada canto do acampamento carrega em si a potencialidade de ser habitado com afeto. Seja em um banco com vista para o horizonte, à sombra de uma árvore, ao longo de um caminho de pedras ou em um círculo de conversas e histórias, esses espaços promovem experiências transformadoras. A topofilia, esse elo entre pessoa e ambiente, está presente em cada atividade, em cada interação com a natureza. E é por meio desse afeto que o aprendizado se torna mais profundo, significativo e memorável.
Conclusão
Rayssa Oliveira nos ensina que habitar um espaço com afeto é o caminho para transformar a educação. Ao olhar para os espaços escolares e outros ambientes educativos, como o Acampamento Aruanã, percebemos que o aprendizado vai além do conteúdo formal e se materializa nas interações humanas e na forma como nos conectamos aos lugares que habitamos. No Aruanã, buscamos sempre proporcionar essa conexão, permitindo que as crianças vivenciem o espaço de forma afetiva e, assim, levem consigo lições que ficarão para a vida toda.